Días y noches de amor y de guerra
Querida Carla,
gostaria de te fazer uma crónica destes dias portuenses mas acho que nem sou capaz. Hoje acabou-se tudo no Rivoli, eu fiquei lá à porta até às 4 da manhã e a polícia chegou às 6. Já estávamos todos muito cansados e nem falo dos de dentro. A comunicação social já se tinha recolhido, só restava a chuvinha de sempre e os malucos típicos da madrugada.
Disseram-me que foram clínicos e anormalmente bem educados. Vinham açaimados. O Rio não quer levantar mais poeira.
A onda de solidariedade entre artistas e produtores culturais foi finalmente visível, e comovente, até houve uma pequena manifestação em Lisboa! Mais declarações públicas, algumas esperadas (Jorge Silva Melo, Luís Miguel Cintra, João Fernandes), outras mais surpreendentes (Ricardo Pais, Miguel von Hafe).
Os ocupas, esses "descontrolados" conseguiram agitar a cidade por uns dias. Amanhã vão todos a tribunal, entre eles o H., a C. e o C..
Esta democracia é musculada. Primeiro, tentaram vencê-los pelo cansaço, pelo frio, pela fome e pela sede. Não havia luz nem água no interior e o ar condicionado estava sempre no máximo. E tentaram impedir o abastecimento do exterior. Foi necessária muita imaginação. Uma mangueira, que passava pela frincha da porta, fornecia sopa, água, vinho! Passavam-se bilhetinhos, porque os telemóveis ficaram todos sem bateria. Era lindo de ver!
A opinião pública? Quem o poderá dizer? Parece-me que à partida já os bandos estão formados e que não sofrem grandes alterações, aconteça o que acontecer. Há quem pense que foi uma pouca-vergonha, tipo "vai-mas-é-trabalhar!", outros (muitos?) pensam que foi um exemplo de coragem ao velho estilo do Porto. O tempo dirá, ou calará.
Angelo Ferreia de Sousa
20 de Outubro 2006
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