FOX POWER 800
Limiar
passagem
soleira
princípio
ombreira
entrada
saída
Espaços liminais, entre o interior e o exterior; o já não e o ainda não; ritual de passagem entre a adolescência e a idade adulta, entre a potência e a realização, vida animal e vida política. As ombreiras das portas são um dos lugares seguros em caso de terramoto, segundos que para a vida em suspenso parecerão uma eternidade.
Eu vivo no limiar da periferia. Onde a cidade perde consistência e o subúrbio desponta, nem residencial, nem industrial, nem natural, apenas entroncamentos.
Eu vivo.
A questão de ser e viver conflacionadas, a questão de ser bios e zoē. Bios é a nossa vida política, aquela que diz respeito à polis, enquanto que zoē é a nossa vida enquanto organismos vivos.
- As ostras estão vivas quando as comemos?
- As ervas daninhas contam como vida?
Essa mera vida natural começa a dizer respeito à polis exactamente na vida moderna, ou democrática por assim dizer, quando a política se transforma em biopolítica, e o estado já não está interessado na vida individual de cada cidadão em particular mas na vida colectiva da espécie, este é o “limiar da modernidade biopolítica”. O Soberano já não é entendido como aquele que tem o poder de to kill ou let live; mas soberania é agora a decisão de make live ou let die; de decidir o estado de emergência no qual a lei é suspensa; suspensão tal que lhe dá a sua raison d’être.
A excepção é também liminal, já não... ainda não, já não é zoē ... ainda não é bios.
Esta vida nua é a vida do ser liminal, sujeito ou súbdito do poder político moderno, do soberano que decide esse mesmo estado de excepção. A soberania é ela mesma uma ombreira que está fora e dentro da lei, que aplica e não se faz aplicar. Lei que está fora de si mesma, que se aplica por não se aplicar. A excepção faz a regra, a excepção justifica a regra. A questão é quando a excepção passa a ser a regra.
William Lyttle cavou quilómetros de túneis em torno da sua casa em Hackney durante 40 anos sem propósito à vista.
O limiar é o espaço da soberania e da vida nua. Aqui e agora toda a vida é um só túnel, que como o da toupeira de Hackney tem-se a si mesmo como propósito.
Os túneis são também liminais, já não e ainda não, longas ombreiras subterrâneas, potência nem sempre actualizada... isto é Rotherhite, já não ... ainda não, isto é Wapping; isto é Kent, já não... ainda não, isto é Calais; isto é o México, já não... ainda não, isto é Estados Unidos da América. A tecnologia para teletransportar corpos de um local para o outro já não é o horizonte insuperável da ciência, é actual, porém, uma questão permanece, quando o corpo se divide à partida na sua mais pequena unidade, como reorganizar o todo à chegada?
Somos aquele mesmo que partiu?
Perante a indistinção entre bios e zoē que é a vida nua, o zombie moderno, dedicado já ao mundo dos mortos e portanto sagrado; cuja vida pode ser tomada sem qualquer penalidade, vida cuja distinção entre lei foi apagada para sempre, como reorganizaremos as nossas monadas simultaneamente em singularidade e comunidade?
No quarto episódio da série Americana The Wire, um polícia tenta desencravar uma secretária da ombreira da porta... um segundo polícia junta-se-lhe para ajudar, e mais dois de seguida e finalmente o tenente. Entre grunhidos e praguejamento cinco homens tentam mover a secretária. Exaustos param para avaliar a situação quando primeiro exclama:
- Assim nunca mais a vamos conseguir trazê-la para dentro!
Perante a cara de estupefacção dos colegas ele volta a exclamar:
- O que foi?
Dentro? Exclamam um após o outro. Cristo!
“Este corpo biopolitico que é a vida nua deverá transformar-se no local da constituição e instauração de uma forma de vida que é totalmente esgotada na vida nua e numa bios que é a sua própria zoē.” (Agamben)
Threshold
passage
groundsill
beginning
jamb
entrance
exit
Liminal spaces, between inside and outside; the no longer and the not yet; passage ritual between adolescence and adulthood, between potentiality and actuality, animal life and political life. Door thresholds are one of the safest places in case of an earthquake, seconds that for the suspended life will seem like an enternity.
I live in the threshold of the periphery. Where the city losses its consistency and the suburb rises, neither residential, nor industrial or natural, rather mere junctions.
I live.
The question of being and living conflates, the question of being bios and zoē. Bios is our political life, the one that regards the polis, while zoē is our live as living organisms.
- Are oysters alive when we eat them?
- Does weed count as life?
This mere natural life starts concerning the polis exactly in modern life, or rather democratic life, when the political becomes biopolitical, and the state is no longer interested in the individual life of each particular citizen but in the collective life of the species, this is the “threshold of biopolitical modernity”. Sovereign is no longer understood as the one that holds the power to kill and let live; rather, sovereignty, is now the decision to make live and let die; to decide on the emergency state where law is suspendend; suspension which gives law its raison d’être.
The exception is also liminal, no longer... not yet, no longer zoē... not yet bios.
This bare life is the life of the liminal being, subject, or subject of, the modern political power, of the sovereign that decides that state of exception. The sovereignty is itself a threshold that is outside and inside the law, that applies and is not applied to. Law that is outside itself, that applies by not applying. The rule lives of the exception alone, the exception justifies the rule. The question is when exception is in itself the rule.
William Lyttle dug miles of tunnels around his house in Hackney during 40 years without a purpose in sight.
The threshold is the space of sovereignty and bare life. Here and now every life is one single tunnel, that like those of Hackney’s mole have in itself its purpose.
Tunnels are also liminal, no longer and not yet, long subterranean thresholds, potentiality not always actualized... this is Rotherhithe, no longer... not yet, this is Wapping; this is Kent, no longer... not yet, this is Pas-de-Calais; this is Mexico, no longer... not yet, this is the United States of America. The technology to teletransport bodies from one place to another is no longer the unsurpassable horizon of science, it is present, however one question remains, when the body is divided at the departure in its smallest units, how to reorganize the whole in the arrival?
Are we the same one that departed?
Given the lack of distinction between bios and zoē that bare life is, the modern zombie, already dedicated to the dead and therefore sacred; whose life may be taken without punishment, life whose distinction between law was for ever erased, how to reorganize our monads simultaneously into singularity and community?
In the forth episode of the American series The Wire, a policeman tries to move a desk that is jammed on the threshold of a door... another policeman jumps in to help, and then two other and finally their lieutenent. Between grunts and swearing five men try to move the desk.
Exausted they stop to evaluate the situation when the first exclaims:
- At this rate we’re never gonna get it in!
Before the face of stupefaction of his colleagues he exclaims again:
- what?
In? Exclaims one after the other. Christ!
“This biopolitical body that is bare life must itself instead be transformed into the site for the constitution and installation of a form of life that is wholly exausted in bare life and a bios that is only its own zoē.” (Agamben)
Umbral
Pasaje
Solera
Principio
Jamba
Entrada
Salida
Espacios liminales, entre el interior y el exterior; el ya no y el aun no; ritual de pasaje entre la adolescencia y la edad adulta, entre la potencia y la actualización, vida animal y vida política. Los marcos de las puertas son uno de los lugares más seguros en caso de un terremoto, segundos que para una vida en suspenso parecerán una eternidad.
Yo vivo en el umbral, donde la ciudad pierde consistencia y el suburbio se levanta. Ni residencial, ni industrial, ni natural, sólo entroncamientos.
Yo vivo.
La cuestión de ser y vivir combina la cuestión del ser bios y zoē. Bios es nuestra vida política, en lo que se refiere a polis, mientras que zoē es nuestra vida en tanto organismos vivos.
¿Están vivas las otras cuando las comemos?
¿Cuentan las malas hierbas como vida?
Esta mera vida natural comienza, en lo que respecta a la polis, exactamente en la vida moderna, o democrática por decirlo así, cuando la política se transforma en biopolítica, y el estado ya no esta interesado en la vida individual de cada ciudadano en particular sino en la vida colectiva de la especie, este es el “umbral de la modernidad biopolítica”. El soberano ya no es entendido como aquel que tiene el poder de to kill o let live, sino que la soberanía es ahora una decisión de make live and let die; de decidir el estado de emergencia en el cual la ley es suspendida; suspensión que da a la ley su raison d’être.
La excepción tambien es liminal, ya no… aun no, ya no es zoē… aun no es bios.
Esta nuda vida es la vida del ser liminal, sujeto o subdito del poder politico moderno, del soberano que decide ese mismo estado de excepción. La soberanía es en si misma un umbral que esta fuera y dentro de la ley, que aplica y no se hace aplicar. La excepción hace a la regla, la excepción justifica la regla. La cuestión es cuándo la excepción pasa a ser la regla.
William Lyttle cavó kilómetros de tuneles alrededor de su casa en Hackney durante 40 años, sin proposito aparente.
El umbral es el espacio de la soberanía y de la nuda vida. Aquí y ahora toda vida es un solo túnel que como aquellos del topo de Hackney se tienen a si mismos como propósito.
Los túneles son también liminales, ya no y aun no, largos umbrales subterraneos, potencia no siempre actualizada… esto es Rotherhithe, ya no… aun no, esto es Wapping; esto es Kent, ya no… aun no, esto es Pas-de Calais; esto es México, ya no… aun no, esto es los Estados Unidos de América. La tecnología para teletransportar cuerpos de un lugar a otro ya no es el horizonte insuperáble de la ciencia, es actual, pero una cuestión permanece, cuando el cuerpo se divide en sus unidades más pequeñas, cómo reorganizar todo a la llegada?
Somos aquel mismo que partió?
Dada la falta de distinción entre bios y zoē que es la nuda vida, el zombie moderno, dedicado ya al mundo de ls muertos y por lo tanto sagrado; cuya vida puede ser tomada sin ninguna penalidad, vida cuya distionción entre la ley fue apagada para siempre, cómo reorganizaremos nuestras mónadas simultáneamente en singularidad y comunidad?
En el cuarto capítulo de la serie Americana The Wire, un policía tenía que destrabar un escritorio del umbral de una puerta… un segundo policía se une para ayudar, y luego dos más, y finalmente el teniente. Entre gruñidos e insultos cinco hombres tratan de mover el escritorio. Exhaustos paran para evaluar la situación cuando el primero exclama:
- Así nunca vamos a conseguir meterlo!
Ante la cara de estupefacción de sus colegas, exclama de nuevo:
- ¿Qué?
¿Adentro? Exclaman uno tras otro. ¡Cristo!
“Este cuerpo biopolítico que es la nuda vida deberá transformarse en el lugar de la constitución ye instauración de una forma de vida que esta totalmente agotada en la vida nuda y una bios que es su propia zoē.” (Agamben)
Ângelo Ferreira de Sousa, Carla Cruz e/and Jose Araud-Bello